Associação Sindical dos Enfermeiros Acusa Governo de “Prometer Ilusões”

Em meio à crescente tensão entre os profissionais de saúde e o Governo, a Associação Sindical dos Enfermeiros (ASE) criticou duramente o que descreve como “promessas ilusórias” feitas pelo Executivo. A liderança da ASE afirmou, em comunicado à imprensa, que as recentes declarações do Governo sobre melhorias nas condições de trabalho e remuneração da classe são “inconsistentes com a realidade” e não atendem às demandas urgentes do setor.

Contexto das Negociações

Nas últimas semanas, o Governo tem promovido um discurso de que melhorias substanciais estão sendo implementadas no Sistema Nacional de Saúde (SNS), especialmente em relação aos profissionais de enfermagem. Em declarações recentes, o Ministério da Saúde sublinhou o compromisso de aumentar os salários dos enfermeiros, melhorar as condições de trabalho e criar incentivos para fixação de profissionais em regiões carentes de atendimento.

Contudo, segundo a ASE, essas promessas têm se mostrado repetitivas e pouco concretas. “O que estamos a testemunhar é um ciclo de anúncios vazios, que não correspondem às medidas reais necessárias para resolver os problemas crônicos enfrentados pelos enfermeiros”, declarou a presidente da ASE, Sofia Santos. “Prometer sem cumprir é o mesmo que prometer ilusões, e é isso que o Governo tem feito.”

Problemas Estruturais e a Realidade dos Enfermeiros

Para a ASE, os principais problemas enfrentados pelos enfermeiros estão longe de serem resolvidos. Entre os pontos de maior destaque estão os baixos salários, a falta de progressão na carreira, as longas jornadas de trabalho e a escassez de recursos nos hospitais e centros de saúde. Além disso, a precariedade de contratos temporários e o número insuficiente de enfermeiros continuam a ser barreiras significativas para a melhoria do atendimento no SNS.

“A realidade do dia a dia dos enfermeiros é bem diferente do que o Governo tenta pintar”, continuou Santos. “Somos responsáveis pela linha de frente do atendimento à população e, no entanto, enfrentamos condições de trabalho desumanas, que colocam em risco tanto a nossa saúde quanto a qualidade dos cuidados prestados aos utentes.”

Protestos e Ações Coletivas

A Associação Sindical dos Enfermeiros tem organizado uma série de protestos e greves nos últimos meses para pressionar o Governo a cumprir as suas promessas e a adotar medidas concretas para melhorar a situação dos profissionais. A última grande manifestação ocorreu em Lisboa, reunindo milhares de enfermeiros que exigiram, entre outras coisas, um aumento salarial justo e a revisão do regime de horários.

Segundo dados da ASE, mais de 80% dos enfermeiros afirmam estar insatisfeitos com as suas condições de trabalho e cerca de 40% consideram deixar o SNS em busca de melhores oportunidades no setor privado ou no estrangeiro. “O êxodo de enfermeiros para países como o Reino Unido, França e Alemanha tem sido alarmante. Estes profissionais, que foram formados com recursos públicos, estão a sair do país por falta de reconhecimento e de valorização”, destacou a dirigente sindical.

Respostas do Governo

Até o momento, o Governo tem adotado uma postura cautelosa diante das críticas da ASE. Em nota oficial, o Ministério da Saúde reafirmou que está empenhado em melhorar as condições dos profissionais de saúde, incluindo os enfermeiros. “Estamos a trabalhar num pacote de medidas que inclui a valorização da carreira, a revisão salarial e a melhoria das condições de trabalho. No entanto, estas reformas exigem tempo e negociação com todas as partes envolvidas”, diz o comunicado.

O Ministério argumenta que o contexto orçamental restrito e as limitações impostas pela crise económica dificultam a implementação imediata de todas as medidas desejadas. No entanto, o Governo sublinhou que, até o final do ano, pretende concluir as negociações com os sindicatos de enfermagem e aprovar um novo quadro normativo para a profissão.

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Ceticismo da ASE

Apesar das promessas do Governo, a ASE mantém uma postura cética em relação à possibilidade de mudanças reais no curto prazo. Segundo Sofia Santos, “o Governo não pode continuar a usar a crise económica como desculpa para adiar as reformas necessárias no SNS. Os enfermeiros não podem mais esperar. As suas condições de trabalho estão no limite, e a população sofre com a falta de profissionais.”

Santos também apontou para a necessidade de um plano de emergência para a contratação imediata de enfermeiros, especialmente em regiões mais carentes, e de um aumento generalizado dos salários, que permita uma equiparação com a média europeia.

Impacto no SNS e na Qualidade do Atendimento

O descontentamento dos enfermeiros e a sua saída em massa do sistema público de saúde têm um impacto direto na qualidade do atendimento prestado à população. A sobrecarga de trabalho, aliada à falta de recursos, gera um aumento nas listas de espera, atrasos no atendimento e uma deterioração geral dos serviços de saúde.

Diversos utentes do SNS têm expressado a sua frustração com o atual estado do sistema. “Os enfermeiros fazem o que podem, mas é evidente que eles estão sobrecarregados. A espera para consultas e tratamentos tem aumentado e, muitas vezes, não há enfermeiros suficientes para atender a todos”, afirmou Ana Costa, uma utente do Centro de Saúde de Lisboa.

Futuro das Negociações

Com as negociações em curso, a ASE promete continuar a pressionar o Governo até que medidas concretas sejam adotadas. “Não vamos desistir até que os enfermeiros vejam as suas condições de trabalho verdadeiramente melhoradas”, finalizou Sofia Santos. “A nossa luta é pelo reconhecimento da importância dos enfermeiros no sistema de saúde e pelo direito a condições de trabalho dignas.”

O Governo, por sua vez, reafirma o compromisso com os profissionais de saúde, mas pede paciência e tempo para a implementação das reformas.