A passagem da tempestade Kirk pelos distritos de Viseu e Vila Real, em particular nas regiões de Moimenta da Beira e Armamar, resultou na destruição de toneladas de maçãs, uma das principais culturas destas zonas. A intempérie, que trouxe chuvas torrenciais e ventos fortes, afetou gravemente os pomares, comprometendo a produção deste ano e causando prejuízos significativos aos agricultores locais. O cenário de devastação coloca em risco não só a economia local, fortemente dependente da produção frutícola, mas também a subsistência de muitas famílias que trabalham diretamente no setor.
Danos extensivos nos pomares
Os primeiros relatos dos estragos surgiram no início da manhã seguinte à tempestade, quando os agricultores se depararam com o cenário devastador nos seus pomares. O vento, com rajadas que atingiram mais de 100 km/h, arrancou árvores pela raiz e atirou milhares de quilos de maçãs ao chão, tornando-as inapropriadas para o consumo e venda. Muitos produtores estimam que cerca de 50% a 80% da produção deste ano foi perdida devido à intempérie, dependendo da localização dos pomares.
Moimenta da Beira e Armamar são conhecidas por serem grandes centros de produção de maçã, especialmente da variedade maçã de montanha, que é um dos produtos mais exportados da região. Este setor emprega centenas de pessoas e gera uma receita anual que, em 2023, foi estimada em mais de 20 milhões de euros. Contudo, após a tempestade Kirk, as previsões para este ano são bastante desanimadoras.
O agricultor José Moreira, proprietário de um pomar em Moimenta da Beira, descreveu o impacto da tempestade: “Foi devastador. Nunca vi nada assim. Uma boa parte das árvores está destruída e o fruto que conseguimos salvar não está em boas condições para o mercado. Será um ano muito difícil para todos nós.”
Prejuízos milionários
As autoridades locais e associações de agricultores começaram imediatamente a avaliar os danos causados pela tempestade. Segundo a Associação de Fruticultores da Beira Távora (AFBT), os prejuízos podem superar os 10 milhões de euros só nas duas regiões afetadas, considerando a perda direta de produção e os danos estruturais causados nos pomares e nas infraestruturas de armazenamento.
A presidente da AFBT, Ana Silva, lamentou os estragos, afirmando que “o impacto da tempestade Kirk não se resume à perda de produção este ano, mas também pode ter consequências a longo prazo, uma vez que muitas das árvores danificadas terão de ser substituídas, o que significa que alguns produtores poderão demorar vários anos a recuperar.”
A tempestade afetou também o processo de colheita, que estava em pleno andamento no momento em que a intempérie atingiu a região. O período de colheita, que se estende geralmente de setembro a novembro, foi severamente interrompido, deixando os produtores sem tempo para reagir ou tentar salvar parte da produção.
Pedido de ajuda às autoridades
Diante da situação crítica, os agricultores e associações de fruticultores apelaram ao Governo para que sejam tomadas medidas urgentes de apoio à recuperação da produção. As primeiras solicitações de ajuda já foram enviadas ao Ministério da Agricultura, que prometeu uma resposta rápida, mas os produtores continuam apreensivos sobre o futuro.
Uma das principais reivindicações passa pela ativação de fundos de emergência para apoiar os agricultores na reposição dos equipamentos destruídos, assim como na compensação pela perda da colheita. A presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, Paula Cardoso, também já se manifestou sobre o assunto: “É fundamental que o Governo se mobilize para apoiar estes agricultores que perderam tudo. A economia local depende desta atividade, e os prejuízos que enfrentamos afetam não só os produtores, mas toda a comunidade.”
As autoridades locais estão também a estudar a possibilidade de isenção de impostos e contribuições para os agricultores mais afetados, bem como a criação de linhas de crédito a juros baixos para ajudar na recuperação dos pomares.
A ameaça de mais fenómenos extremos
A tempestade Kirk não foi um evento isolado, sendo mais um exemplo do aumento de fenómenos meteorológicos extremos em Portugal, um reflexo das alterações climáticas que têm vindo a afetar a agricultura em diversas regiões do país. Nos últimos anos, os produtores de frutas e outros produtos agrícolas têm sido confrontados com uma maior frequência de secas severas, chuvas torrenciais e ventos intensos, que comprometem a produção e a sustentabilidade das explorações agrícolas.
Em Armamar, os danos foram igualmente devastadores. Vários produtores relataram a destruição quase total dos seus pomares. “Tínhamos esperança de que este seria um bom ano para a maçã, depois de dois anos difíceis devido à pandemia. Agora, com este desastre, estamos novamente numa situação de incerteza total,” afirmou Rui Martins, outro agricultor local.
Impacto na economia local
A agricultura é uma das principais fontes de rendimento para estas regiões do interior de Portugal. Além da produção de maçã, muitos agricultores dependem também da venda para grandes cadeias de supermercados e exportação para mercados internacionais. Com a destruição causada pela tempestade Kirk, prevê-se que muitas das encomendas não possam ser cumpridas, o que poderá resultar em quebras de contratos e na perda de clientes, tanto a nível nacional como internacional.
O turismo rural, que está intimamente ligado à produção frutícola, também poderá ser afetado. Muitos visitantes vêm à região durante o outono para participar na colheita de maçãs e desfrutar das paisagens naturais. A devastação dos pomares e a interrupção das atividades agrícolas podem ter um impacto negativo no setor turístico.
Mobilização da sociedade civil
Em resposta ao desastre, algumas organizações de solidariedade já começaram a organizar campanhas de angariação de fundos e apoio para os agricultores afetados. Várias associações locais criaram fundos de emergência para ajudar na recuperação dos pomares e nas despesas imediatas das famílias de agricultores que dependem exclusivamente desta atividade.
A solidariedade da comunidade tem sido essencial nestes primeiros dias após a tempestade, mas os agricultores sublinham que a ajuda do Governo será indispensável para a recuperação a longo prazo.