O ciclone tropical Isaac, que se formou no Atlântico nos últimos dias, segue em direção ao nordeste, afastando-se progressivamente do arquipélago dos Açores. Apesar do afastamento, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alertou que a tempestade ainda poderá influenciar o estado do tempo nas ilhas, trazendo precipitação intensa, ventos fortes e agitação marítima nos próximos dias.
Alteração na trajetória
Inicialmente, as previsões indicavam que o ciclone Isaac poderia aproximar-se mais do território açoriano, especialmente das ilhas dos grupos central e oriental. Contudo, nas últimas atualizações meteorológicas, o IPMA e o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) confirmaram uma mudança significativa na trajetória da tempestade. Isaac deverá passar a mais de 500 km a leste dos Açores, reduzindo o impacto direto sobre o arquipélago.
Apesar dessa mudança, as autoridades locais e os serviços de proteção civil mantêm o alerta amarelo para precipitação e vento em várias ilhas, particularmente São Miguel, Terceira, Faial e Pico. A situação meteorológica será monitorizada continuamente para ajustes nos avisos e orientações às populações.
Influências no estado do tempo
Embora não se espere um impacto severo direto, Isaac ainda trará consequências meteorológicas. O IPMA adiantou que, entre esta quinta-feira e sexta-feira, as ilhas dos Açores deverão enfrentar períodos de chuva, localmente intensa, acompanhada de ventos fortes, com rajadas que poderão ultrapassar os 80 km/h. Também se prevê um aumento significativo da agitação marítima, com ondas que poderão atingir até 5 metros de altura, sobretudo nas zonas costeiras expostas a leste.
A previsão mais crítica aponta para as ilhas do grupo oriental, São Miguel e Santa Maria, que poderão ser as mais afetadas pelo sistema frontal associado ao ciclone. “Ainda que o centro de Isaac passe ao largo, a sua circulação atmosférica larga o suficiente poderá criar condições de instabilidade nas ilhas mais a leste do arquipélago”, informou o meteorologista do IPMA, Nuno Moreira.
Recomendações das autoridades
Face às previsões de agravamento do tempo, a Proteção Civil dos Açores emitiu um conjunto de recomendações à população, especialmente nas áreas mais expostas. A entidade pede que as pessoas evitem sair de casa durante os períodos de maior intensidade de vento e chuva, mantenham as vias de escoamento de água desobstruídas, e fixem os objetos soltos em varandas e jardins que possam ser arrastados pelo vento.
As autoridades também alertam para a necessidade de evitar atividades marítimas, devido ao aumento da ondulação, e reforçaram os cuidados com a navegação e a permanência em áreas costeiras. “As condições no mar poderão deteriorar-se rapidamente. Todos os que operam no setor da pesca ou turismo marítimo devem adotar medidas preventivas e evitar qualquer risco desnecessário”, afirmou um porta-voz da Capitania dos Portos dos Açores.
Histórico de ciclones nos Açores
Embora os Açores estejam acostumados a enfrentar condições meteorológicas adversas, principalmente durante a época de furacões no Atlântico, a passagem de ciclones tropicais ou furacões diretamente sobre o arquipélago não é comum. Contudo, nas últimas décadas, o aumento da temperatura dos oceanos tem favorecido a formação e o deslocamento de ciclones mais ao norte, ampliando a vulnerabilidade da região.
Em 2019, o furacão Lorenzo, de categoria 5, foi o mais forte a atingir os Açores na história registada, causando estragos significativos nas ilhas do grupo ocidental, Flores e Corvo, e também impactando várias ilhas do grupo central. Desde então, a monitorização de ciclones na região tem sido reforçada, com cooperação constante entre as autoridades portuguesas e os serviços internacionais, como o NHC e a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Monitorização contínua
O IPMA e outros serviços meteorológicos internacionais continuam a monitorizar de perto o desenvolvimento do ciclone Isaac, fornecendo atualizações regulares sobre a sua intensidade e trajetória. Atualmente, Isaac mantém-se como uma tempestade tropical, com ventos sustentados de aproximadamente 110 km/h. No entanto, os meteorologistas preveem que o sistema poderá enfraquecer ligeiramente ao se deslocar para águas mais frias do Atlântico Norte.
A previsão indica que Isaac seguirá em direção à Europa continental, mas já como um sistema extratropical, o que significa que perderá as características de um ciclone tropical antes de alcançar qualquer área terrestre.
O IPMA reforçou a importância de a população manter-se informada através dos meios oficiais e seguir as orientações das autoridades locais durante todo o período de instabilidade.
Reações locais
A população açoriana, especialmente os residentes nas ilhas mais vulneráveis, está habituada a enfrentar condições de mau tempo nesta época do ano. Contudo, a incerteza inicial quanto à rota do ciclone causou alguma preocupação entre os moradores.
Ana Marques, residente em São Miguel, afirmou que o impacto do furacão Lorenzo há quatro anos ainda está muito presente na memória da comunidade. “Todos ficamos com receio quando ouvimos falar de um ciclone. Felizmente, parece que desta vez o Isaac vai passar mais afastado, mas estamos sempre preparados para o pior”, disse.
As autoridades locais garantem que todos os recursos estão prontos para atuar em caso de emergência, incluindo o Corpo de Bombeiros, a Proteção Civil e os serviços municipais, que permanecem em prontidão máxima até que o Isaac se afaste completamente da região.