Na última terça-feira, um incidente envolvendo um avião da Força Aérea Portuguesa causou surpresa e preocupação na cidade de Beja, no Alentejo. Durante um treino de rotina, uma aeronave militar libertou, acidentalmente, uma substância líquida com corante que acabou por atingir dois automóveis estacionados na periferia da cidade. O evento gerou inquietação entre os residentes locais, e a Força Aérea já abriu um inquérito para investigar as circunstâncias da ocorrência.
O treino militar
De acordo com informações fornecidas pelo comando da Força Aérea, o avião em questão estava a realizar um exercício de treino de combate aéreo, uma prática comum nas proximidades da Base Aérea de Beja. Estes exercícios visam preparar os pilotos para diferentes cenários de conflito, incluindo manobras de voo em alta velocidade, identificação de alvos no solo e libertação de cargas simuladas. Para efeitos de simulação, as aeronaves transportam cargas de líquidos inofensivos, frequentemente coloridos, que são lançados para simular o impacto de munições.
Neste caso, o líquido utilizado é composto de água misturada com corante, uma solução não tóxica e não prejudicial à saúde ou ao meio ambiente. A libertação deste tipo de substância faz parte de rotinas regulares de treino e, segundo o protocolo militar, deve ocorrer apenas sobre zonas desabitadas ou áreas especialmente designadas para o efeito.
O incidente
Apesar dos procedimentos de segurança em vigor, o avião militar libertou, de forma acidental, o líquido sobre uma zona não autorizada, atingindo dois automóveis estacionados perto de uma estrada na periferia de Beja. Testemunhas relataram que, no momento do incidente, o avião sobrevoava a área a baixa altitude, o que aumentou a visibilidade do ocorrido e chamou a atenção de transeuntes e moradores locais.
Os dois veículos, atingidos pelo líquido colorido, ficaram visivelmente manchados. De acordo com uma das proprietárias de um dos automóveis, Ana Gomes, que se encontrava nas proximidades no momento do impacto, “foi tudo muito rápido. Estava a entrar no carro quando ouvi o barulho do avião e, de repente, o meu carro ficou coberto por este líquido laranja. Não sabia o que era, fiquei bastante assustada.”
Outro morador local, que testemunhou o incidente, afirmou que a aeronave parecia estar a manobrar em direção à base quando aconteceu o lançamento do líquido. “Parecia que o avião ia pousar, mas do nada caiu aquele líquido sobre os carros. Não foi perigoso, mas deixou toda a gente muito confusa e preocupada.”
Reações e medidas imediatas
Assim que o incidente foi reportado às autoridades, a Força Aérea tomou conhecimento e enviou uma equipa ao local para avaliar os danos causados aos veículos e garantir a segurança dos moradores. Os oficiais da Base Aérea de Beja emitiram uma declaração informando que o treino em curso foi imediatamente interrompido após o acidente e que todas as operações aéreas no local foram suspensas até nova ordem.
A Força Aérea Portuguesa explicou, através de um porta-voz, que a situação foi causada por uma falha técnica no sistema de libertação de carga da aeronave, que resultou na libertação acidental do líquido fora da zona prevista. “Estamos a trabalhar para apurar as causas exatas do incidente e garantir que situações como esta não se repitam. A segurança da população é a nossa prioridade”, afirmou o porta-voz.
Quanto aos proprietários dos veículos afetados, a Força Aérea comprometeu-se a arcar com os custos de limpeza e reparação dos danos causados pela substância derramada. “Já contactámos os proprietários dos carros atingidos e estamos a tratar dos procedimentos necessários para assegurar que os danos sejam reparados o mais rápido possível”, assegurou o comando da base.
Avaliação preliminar dos danos
Os automóveis afetados sofreram danos superficiais, uma vez que o líquido utilizado não é corrosivo. No entanto, as manchas causadas pelo corante exigem uma limpeza especializada para a remoção completa, especialmente nas áreas de pintura e nas partes de borracha dos veículos. Até o momento, não há relatos de qualquer tipo de prejuízo estrutural grave ou de impacto sobre a saúde dos envolvidos.
As autoridades locais também confirmaram que não houve feridos, e que a substância derramada não apresenta qualquer risco para o ambiente. De acordo com um especialista consultado para avaliar o incidente, o corante utilizado nestes exercícios é biodegradável e não contém substâncias tóxicas. “Trata-se de uma prática comum em exercícios militares, e o produto utilizado não causa qualquer dano ao meio ambiente ou à saúde humana. Contudo, a sua libertação acidental em áreas urbanas é sempre motivo de preocupação, pelo que é necessária uma revisão dos protocolos de segurança”, afirmou o especialista.
Reação da população e desdobramentos
O incidente gerou algum alarme inicial entre os moradores de Beja, mas a rápida resposta das autoridades militares ajudou a mitigar o impacto negativo. Muitos residentes, no entanto, expressaram preocupação com a proximidade das manobras militares das áreas habitadas, pedindo uma revisão das rotas de treino da Força Aérea.
A Câmara Municipal de Beja já solicitou uma reunião com os responsáveis pela base aérea para discutir a segurança dos exercícios militares e garantir que episódios semelhantes não voltem a ocorrer. O presidente da Câmara, Paulo Arsénio, afirmou em comunicado que “embora não tenha havido consequências graves, o incidente não pode ser subestimado. Devemos assegurar que a população não seja exposta a este tipo de risco no futuro”.
Por sua vez, a Força Aérea sublinhou que continuará a cooperar com as autoridades locais e que está a tomar todas as medidas necessárias para esclarecer os detalhes do incidente. O inquérito aberto deverá apurar as causas exatas do erro técnico, e, segundo fontes internas, poderá resultar em ajustes aos procedimentos operacionais da base aérea.