Carlos Moedas Afirma que Turismo de Cruzeiros “Não Interessa” a Lisboa

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, gerou um amplo debate ao afirmar que o turismo de cruzeiros é um tipo de “turismo que não interessa” à cidade. Em declarações feitas durante um fórum sobre sustentabilidade e turismo na capital portuguesa, Moedas expressou preocupação com o impacto negativo que os cruzeiros têm sobre a economia local e a sustentabilidade ambiental. Segundo ele, o modelo de turismo baseado na chegada de grandes embarcações traz mais problemas do que benefícios para a cidade.

O Argumento de Moedas

Carlos Moedas explicou que, embora o setor de cruzeiros atraia milhares de turistas para Lisboa, os visitantes que chegam através destes meios tendem a gastar menos dinheiro do que outros tipos de turistas e contribuem menos para a economia local. “O turismo de cruzeiros traz um volume muito elevado de pessoas para a cidade, mas essas pessoas não ficam em hotéis, não consomem nos restaurantes locais de forma significativa e muitas vezes passam poucas horas na cidade”, afirmou o presidente da câmara.

Moedas enfatizou que a sua preocupação está centrada nos desafios que este tipo de turismo representa para o modelo de desenvolvimento sustentável que Lisboa quer implementar. “Este é um turismo que contribui para a sobrecarga das infraestruturas e para o aumento da poluição, especialmente na área portuária”, explicou, referindo-se ao impacto ambiental causado pelas grandes embarcações que atracam na capital.

Leia também: Mercado de clínquer de concreto – Participação de mercado global e classificação, vendas gerais e previsão de demanda 2024 – 2031

Turismo de Cruzeiros: Uma Realidade Controverso

O turismo de cruzeiros em Lisboa tem crescido de forma consistente nos últimos anos. Dados da Administração do Porto de Lisboa indicam que a cidade recebe, em média, mais de meio milhão de turistas de cruzeiros por ano. Este tipo de turismo tem sido considerado um pilar importante da estratégia turística da capital, contribuindo para a visibilidade internacional de Lisboa como destino turístico de excelência.

No entanto, essa visibilidade tem um custo, segundo alguns críticos. Ambientalistas e defensores de um turismo sustentável apontam que os cruzeiros são uma das principais fontes de poluição atmosférica e aquática. Além das emissões de gases com efeito de estufa, as grandes embarcações contribuem para o aumento do tráfego no centro da cidade, especialmente em áreas turísticas como o Terreiro do Paço e a Baixa Pombalina, onde se concentram muitos dos turistas que desembarcam em Lisboa.

Reações ao Comentário de Carlos Moedas

As declarações de Carlos Moedas foram recebidas com reações diversas. Enquanto grupos ambientalistas e defensores de um turismo mais sustentável aplaudiram a posição do presidente da câmara, empresários ligados ao setor do turismo e comércio local expressaram preocupação.

Para Ana Paula Almeida, diretora de um restaurante localizado no centro histórico de Lisboa, o turismo de cruzeiros representa uma parte significativa da clientela. “Durante a época alta de cruzeiros, recebemos muitos turistas que vêm dos navios e que ajudam a compensar os meses mais fracos do ano. Se esse fluxo diminuir, poderá ter um impacto negativo no comércio local”, comentou a empresária.

Do lado oposto, João Batista, membro de uma associação ambientalista de Lisboa, concorda com Moedas e acrescenta que o impacto dos cruzeiros vai muito além da economia. “Estamos a falar de um tipo de turismo que é insustentável. O custo ambiental é enorme, e é a nossa qualidade de vida que está em jogo”, argumentou.

Desafios Ambientais e Sustentabilidade

O impacto ambiental do turismo de cruzeiros em Lisboa tem sido alvo de diversas críticas ao longo dos últimos anos. Segundo um estudo do European Federation for Transport and Environment, um cruzeiro de grandes dimensões pode emitir tanto dióxido de enxofre em um único dia como milhões de carros, contribuindo significativamente para a poluição do ar.

Além disso, os resíduos produzidos por esses navios, desde esgoto até óleo, são frequentemente descartados no mar, agravando a poluição marinha e ameaçando a biodiversidade nas águas que rodeiam Lisboa.

Em resposta a essas preocupações, Carlos Moedas afirmou que Lisboa deve apostar em modelos de turismo mais sustentáveis, que tragam benefícios duradouros para a cidade e para a sua população. “Temos que repensar o tipo de turismo que queremos para Lisboa. Queremos um turismo que respeite o ambiente, que contribua para a economia local e que seja parte de uma solução sustentável a longo prazo”, declarou.

Perspectivas para o Futuro do Turismo em Lisboa

A questão agora é como equilibrar as necessidades económicas com a sustentabilidade ambiental. O turismo continua a ser uma das principais fontes de receita para Lisboa, representando uma fatia significativa do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade. Contudo, o crescimento descontrolado do turismo de cruzeiros está a criar uma tensão entre os defensores de um desenvolvimento económico rápido e aqueles que pedem medidas mais severas para proteger o ambiente e a qualidade de vida dos lisboetas.

Carlos Moedas deixou claro que não é contra o turismo em si, mas sim contra um modelo que considera insustentável. Ele reforçou a ideia de que Lisboa deve investir em formas de turismo que promovam estadias mais longas e um maior envolvimento com a cultura e a economia local. “Lisboa tem muito mais a oferecer do que uma visita rápida de algumas horas”, concluiu.

Soluções em Debate

Especialistas sugerem várias soluções para mitigar o impacto dos cruzeiros, desde a implementação de limites diários para a chegada de navios até a adoção de tecnologias mais limpas, como a eletrificação dos portos. Outra solução proposta é o incentivo a tipos de turismo que tragam mais valor económico e menos impacto ambiental, como o turismo cultural, o turismo rural e o turismo de natureza.

Entretanto, a discussão sobre o turismo de cruzeiros em Lisboa promete continuar a gerar controvérsia nos próximos meses, à medida que se discute qual o futuro sustentável para a cidade.